domingo, 29 de janeiro de 2012

O jornalista e suas tragédias

Fiquei dois dias no Rio de Janeiro acompanhando o trabalho de resgate no desabamento de três prédios no centro da cidade. Eu já dormia na quarta-feira à noite quando a redação me ligou avisando que na manhã seguinte iria viajar. Acordei cedo, arrumei as malas e segui para o aeroporto. No Rio de Janeiro, a equipe já me aguardava. Fui direto para o local do acidente.  O cheiro era uma mistura de queimado com pó. Havia muita poeira, quase sufocante. Alguns colegas trabalhavam com máscara.
A pilha de entulho era enorme, assustadora. Em segundos, três prédios desapareceram e destruíram a felicidade de muitas famílias. Bombeiros trabalhavam, curiosos olhavam.
Nessa missão eu tive a ótima parceria de dois produtores da tv. Lívia e Daniel, moradores do Rio de Janeiro, me ajudaram a identificar as autoridades e apurar as informações. No primeiro dia fiquei encarregada de tentar descobrir as causas do acidente. No segundo, acompanhei os enterros de duas vítimas e o resgate dos corpos.
Na última entrevista que fiz com o coronel do corpo de bombeiros, uma declaração forte e que me marcou:
ele disse que algumas pessoas foram encontradas na escada, o que indica que elas tentaram sair do prédio...
Quem escolhe ficar desse lado da imprensa tem de saber que as tragédias fazem parte da vida do jornalista. Nesse caso, não falo do lado pessoal, mas sim do trabalho. E não há como fugir...

sábado, 21 de janeiro de 2012

Filma eu!!!!

Quem trabalha em tv está acostumado com esta frase. Filma euuuu, gritam as pessoas no meio da rua. É interessante perceber a sedução que uma câmera e um microfone provocam sobre as pessoas. Posso dizer, sem exagero, que toda semana ouvimos esta frase. O cinegrafista costuma responder...filmo...
E a curiosidade pra descobrir porque estamos em determinado lugar? Quando várias equipes se encontram no aeroporto sempre vem um ou outro questionar "quem é o famoso que vai chegar?". É a imagem do glamour, de achar que estamos ali apenas para gravar algum artista. Na última vez que ouvi esta pergunta estava no aeroporto pra falar sobre o alto preço dos estacionamentos....
Porteiro de prédio, então, não costuma resistir à pergunta: o que vocês vão gravar? Geralmente respondo apenas que é uma reportagem, para preservar o dono do apartamento. Afinal, ele conta se quiser...
Mas certa vez um porteiro insistiu tanto na pergunta a ponto de não querer deixar a equipe subir. Queria saber de qualquer jeito o que estávamos fazendo ali, já que era proibido gravar no prédio. Eu respondia, mas eu vou no apartamento da moradora tal. Você pode avisar que estou aqui? Na negativa, liguei para a entrevistada, que desceu para nos "resgatar". No apartamento ela me explicou que tinha uma briga antiga com a síndica do prédio, que adorava tomar conta da vida dos moradores....
Gravamos a entrevista e fomos embora. E o porteiro e a síndica continuaram sem saber porque estávamos ali...

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Ela só queria uma boneca...

Eu aguardava uma entrevistada numa clínica de psicologia quando me chamou a atenção a conversa entre uma funcionária e uma menina, de uns 5 anos de idade.
A funcionária perguntou o que ela havia ganhado do papai noel. A menina, com olhar triste, respondeu: "o papai noel não apareceu na minha casa. Eu não ganhei nada de natal."
"Nada?" perguntou a funcionária.
"Não, não ganhei nada.... Eu queria uma Barbie, mas ele não me deu", disse.
Assim como eu, a funcionária ficou um tanto mexida com aquela resposta e passou a tentar explicar os motivos que levaram o papai noel a não aparecer na casa dela.
Sem acreditar no que havia acabado de ouvir fui até uma senhora que estava com a menina (o filho dessa senhora iria passar na clínica). Esta mulher cuidava da criança enquanto o pai trabalhava.
Perguntei se era verdade a história e ela confirmou. A menina realmente ficou sem presente de natal. Não ganhou nada de ninguém. Perguntei se a família não tinha condições. Ela respondeu que até teria, já que o pai tinha emprego. Da mãe, não ganhou brinquedo porque o homem não autorizava, já que estavam brigados.
Doía o coração imaginar o triste natal dessa menina e a carinha de decepção ao acordar e encontrar a árvore de natal - se é que havia uma em casa - vazia.
E ela só queria uma boneca...

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Maria sem vergonha!!!!

Certa vez  eu  fui acompanhar um grupo de crianças numa caminhada pela mata Atlântica, na região de Mogi das Cruzes. O objetivo da reportagem era mostrar o que os pequenos iriam aprender ali, as novidades, a reação no meio da natureza.No caminho, observei que havia muita Maria sem Vergonha. Lembrei da infância. Minha mãe sempre gostou desta flor. O quintal de casa vivia cheio. O caule tem uma semente gordinha deliciosa pra estourar... Era uma diversão ficar procurando a tal semente para apertar.
Decidi dividir essa boa experiência com os estudantes... Pois é, acho que não foi uma boa idéia...rs, pelo menos para o guia.
Mostrei a um pequeno grupo como fazer para estourar as sementes. A novidade foi se espalhando até que, em pouco tempo, todos não faziam outra coisa a não ser procurar a tal semente gordinha! Resultado: a molecada não prestou atenção em mais nada, foi até o final do trajeto se divertindo com a Maria sem Vergonha.... O guia me olhava indicando que não tinha gostado muito... Eu, claro, fazia cara de paisagem....