quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Enganadas por um famoso repórter de tv

Duas jovens jornalistas faziam plantão num jornal regional no ABC Paulista. Colegas de faculdade, colegas de redação, éramos repórteres de geral. Era um sábado tranquilo, não havia muito o que fazer. Nesse dia recebemos a visita de um experiente jornalista policial de uma grande emissora de tv. Ficou ali papeando com a gente , pegou informações sobre a cidade, atuação da polícia, perguntou sobre as favelas... Respondemos tudo, simpáticas, atenciosas, afinal o cara era um grande repórter da tv. E nós éramos repórteres da região, conhecíamos bastante a área. Uma hora depois, o ilustre jornalista vai embora. E nós, todas felizes. Quanta inocência.
Nossas informações o ajudaram, de certa forma, a montar melhor a matéria que explodiu na semana seguinte. Era uma denúncia sobre a violência de policias na favela Naval.
Jantando com a Claudia de Castro Lima, uma querida amiga até hoje, relembramos essa história. Só nos resta dar risada da ingenuidade do começo da carreira. "O cara enganou a gente direitinho", repetimos sempre uma pra outra...rs

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Cadê o caminhão que passou por cima de mim?

Corpo dolorido, preguiça de sair da cama, parece que um caminhão passou por cima de mim... é assim que me sinto na manhã desta quinta-feira, pós plantão de carnaval. E que plantão...
Na terça-feira estava no Anhembi para cobrir a apuração das notas do desfile das escolas de samba de São Paulo. A leitura seguia normalmente, o locutor avisava que era o último quesito. Os jornalistas se posicionaram na mesa da Mocidade Alegre, que liderava. Assim que saísse o resultado final, iríamos para as entrevistas. Eis que fomos surpreendidos por uma gritaria, uma confusão que depois todos viram no que deu.
Começou correria, cadeiras voando, confusão, papéis jogados, pessoas nervosas e os jornalistas correndo pra fazer as entrevistas. De repente, incêndio em um dos carros alegóricos. Eu, o cinegrafista Célio, e o auxiliar Islaudo atravessamos o sambódromo voando... 1 km em menos de 5 minutos... ufa! Enquanto isso, a outra equipe corria do outro lado registrando as imagens de tudo.
Mandei matéria para a tv. Depois, com tudo aparentemente controlado, ficamos aguardando o resultado da campeã. Nesse caso, não havia o que fazer, a não ser esperar. E a espera foi longa.
Enfim, meu dia só terminou à meia-noite, quando eu, produtoras e outro repórter chegamos na tv. Exaustos, mas felizes, porque demos conta do recado. Eu já cobri várias apurações, mas como essa foi a primeira...

http://www.redetv.com.br/Video.aspx?52,15,249461,jornalismo,redetv-news,apuracao-em-sp-foi-suspensa-quando-ultimo-quesito-era-lido

sábado, 18 de fevereiro de 2012

E a educação, onde foi parar?

Esta semana fiz cobertura do julgamento do caso Eloá, a jovem de 15 anos, que foi morta pelo namorado. A imprensa toda estava lá em frente ao Fórum de Santo André, na Grande São Paulo. Tv, rádio, impresso, internet. No fim do dia eu chegava exausta em casa. Parecia que um caminhão tinha passado por cima de mim. Nas entrevistas, todos, inclusive eu, se aglomeravam nas grades para conseguir a melhor imagem, a melhor foto, o melhor som. Um ou outro colega ainda segurava o microfone ou gravador do colega que estava mais distante. Mas no geral, o que observei foi muita selvageria. Sim, essa é a palavra. Colegas tentavam roubar entrevistados de quem estava ao vivo. Como assim????? Além da ética profissional, onde está a educação que a mãe ensinou? Acho que foi por água abaixo.
Barracas e guarda sol determinavam o espaço das mídias. Uma empresa contratou seguranças que olhavam torto para quem passava pelo "espaço" dela. (isso porque só eram profissionais de comunicação). Outra chegou a colocar um cartaz avisando que ali era espaço "só" para eles.
Esse tipo de cobertura já é exaustiva pelos dias e horas que passamos ali. Isso sem contar o sol escaldante e a falta de lugar pra sentar. Correr atrás da informação, sair na frente da notícia é uma coisa. Ser mal educado....

Ah, vale o registro. Um rapaz de um site fazia a cobertura sozinho. Sem estrutura, contou com ajuda da mãe, que durante os quatro dias levou marmita para o filho na hora do almoço. Eu vi!! Mãe é mãe...

domingo, 12 de fevereiro de 2012

23 horas de trabalho


Foi numa sexta-feira de 1999. Trabalhava no jornal Agora São Paulo. Eu entrei às 8h da manhã, meu horário na época. Sete horas da noite eu ainda estava lá... fechava uma matéria especial para a edição de domingo. Em jornais impressos é comum o jornalista trabalhar até de madrugada para adiantar o fim de semana. É o chamado pescoção. Mas como eu havia entrado cedo, no máximo 1h estaria dispensada.
Sonho meu... O editor me informa, umas oito da noite, que o diretor de redação decidiu de última hora cobrir a eleição do rei e rainha do carnaval de São Paulo e ele, editor, queria que eu fosse.
Retruquei afirmando que a festa iria até de madrugada, eu ficaria muitas horas trabalhando direto. O editor respondeu inocentemente que "não, a festa só vai até 1h, no máximo".
Pois é, não foi. A festa terminou tarde, muito tarde. Foi legal a cobertura, gostei da experiência inédita, mas estava exausta. As baterias das escolas de samba tocavam e eu lá tirando uma soneca nas poltronas do Anhembi. O resultado só saiu lá pelas 4h da madrugada.
Entrevistei os vencedores e segui para o jornal. Peguei meu carro e fui pra casa. À tarde, fui para o jornal. E o mesmo editor que me mandou fazer a matéria estava lá de plantão. Entrei, escrevi o texto e me mandei, já que era meu fim de semana livre. Ao editor, só disse uma frase: eu trabalhei por 23 horas seguidas. Ah, ele me de uma folga depois...

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

"Dormi vendo tv e acordei cego"

Foi assim, direto, que Ubirajara me contou como ficou cego. A perda de visão era esperada _ por causa de uma doença _ mas ele disse que mesmo assim o susto foi enorme. Imagino, afinal eu também levei um susto quando ouvi a frase...
Conheci Uribaraja na semana passada. Ele e mais quatro cegos vao ser jurados dos desfiles das escolas de samba do grupo um ao quatro e dos blocos de carnaval. É novidade. Para isso, fizeram um curso durante cinco meses. O objetivo é tornar a avaliação da bateria mais justa, já que esses jurados vão avaliar somente o som.
Com exceção da Giovanna, que perdeu a visão com um ano de idade, os outros jurados ficaram cegos na vida adulta, a maioria por glaucoma, e tiveram de aprender a lidar com a escuridão. Mas não senti rancor de nenhum deles, pelo contrário. Eram alegres. Quando a bateria tocava, eles curtiam, sorriam, dançavam. Senti uma força enorme pra viver e conquistar o espaço na sociedade. E como disse um deles, é o samba quebrando barreiras. E que essa turminha simpática consiga muito mais espaço!
Eu mandei por email o link da matéria para eles e recebi essa graciosa mensagem da Giovanna.
"Oi Renata, muito obrigada por enviar o link, a matéria ficou muito boa mesmo. Obrigada pelo interesse de vcs em nosso projeto e pelo empenho em retratá-lo.
Foi um imenso prazer conhecê-la. Até mais! "
Giovanna Maira


O prazer foi todo meu, Giovanna!

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Minha primeira chacina

Esta semana uma jovem editora veio me contar toda animada que tinha editado a primeira matéria exclusiva. Os olhos dela brilhavam tanto que dava gosto de ver.
Essa animação e orgulho pelo trabalho realizado me fez lembrar minhas primeiras experiências no jornalismo.
A primeira chacina ninguém esquece... 12 pessoas mortas num bar de uma cidade na Grande São Paulo. Foi em 1998. Fazia uns dois meses que estava na Folha da Tarde (hoje Agora São Paulo) quando a pauta me encarregou de cobrir o assunto. Por sorte, tinha a ótima orientação de Angélica Sales, minha pauteira. Para pedir os conselhos e saber pra onde seguir, eu ligava de um orelhão...sim orelhão, já que na época pouquíssimas pessoas tinham celular. Ah, e ligava com ficha!!!
Foi a primeira vez também que senti o que é um repórter aparecer num velório quando não é bem vindo... em tom não muito amigável, as famílias disseram que não iriam dar entrevista e que era para eu sair dali. Saí e voltei pra redação pra escrever. Que responsabilidade, pensava!!!
No dia seguinte, a matéria estava na capa do jornal. Era manchete. Minha primeira manchete na Folha da Tarde. Eu já tinha feito uma manchete no Diário do Grande ABC, mas fui codjuvante. Ajudei outra repórter com parte da informações.
Na chacina não. Eu fiz a apuração, eu descobri os fatos, eu escrevi o texto. E tenho certeza que quando vi o resultado na capa meus olhos brilharam, assim como os da jovem editora.