domingo, 26 de maio de 2013

Vocês conhecem alguém que tá preso? Nós....

Vocês conhecem alguém que está preso? Algum parente, amigo? Nós somos presos, estamos cumprindo nesse presídio...
Ops...
O diálogo aconteceu em Guarulhos, nos presídios da via Dutra. Eu fui até lá para gravar passagem (quando a repórter aparece) para uma reportagem sobre saída temporária. O governo estadual tinha divulgado o número de presos que não voltaram depois da saída para o dia das mães.
Eu e o câmera estacionamos o carro na frente do presídio. Ao lado, estavam uns pedreiros de uma obra ao lado. Vestidos com a roupa da obra, macacão amarelo, capacete, luvas, como manda a lei.
Avisamos que o carro ficaria parado ali por pouco tempo, apenas para gravar a passagem. Seria rápido. Como estava ao lado do presídio, achei que aquelas pessoas poderiam conhecer alguém... Foi quando eles contaram que eram presos, que estavam no semi aberto, ou seja, saem de dia para trabalhar e dormem na cadeia. 
Como se fosse a conversa mais normal do mundo, engatei a pergunta: e vocês estão presos porque?
Assalto a mão armada, porte de arma...ah tá....Engatei de novo, vai que ali está meu personagem: e vocês já tiveram saída temporária? Não...
Subi a passarela, gravei a passagem. Lá de cima, reparei um rapaz (nada a ver com os presos) entrando no presídio e dando tchau a uma mulher. Pensei...pensei... e saí correndo. Avisei cinegrafista, ele é nosso personagem. Faz imagem daqui de cima. Saí correndo, alcancei a mulher que ia embora e ela me disse que ele estava em liberdade há poucos dias, que só estava lá para entregar um documento. 
Esperei o rapaz voltar e ele topou gravar entrevista comigo. Há menos de uma semana, aniversário dele, tinha tido o benefício da saída temporária. E agora estava em liberdade de vez.
Quem não arrisca não petisca!!!

sábado, 11 de maio de 2013

A fome dói...

Eu trabalhava em Mogi das Cruzes, quando fui pautada para fazer uma matéria sobre as pessoas que doavam alimentos para os moradores de rua. Gravei com uns jovens, que se reuniam toda sexta-feira para fazer sopa. Cozinhavam e iam para as ruas distribuir.
Gravei o preparo da sopa e depois segui com eles para mostrar a distribuição da janta. Nessa reportagem descobri que para muitos aquela era a única refeição do dia. Não tinham colocado nada na boca até então... e já passava das dez da noite.
Encontrei uma família com pai, mãe e duas crianças, todos deitados no chão gelado. Estavam procurando abrigo na garagem de um comércio, tentando se proteger do frio. Já era inverno. Estavam enrolados num cobertor e sobre um papelão. Nada além disso. As crianças dormiam, dormiram com fome naquela noite, já que não havia o que comer, me disse a mãe. O pai me contou que tinha perdido o emprego e como não conseguiu pagar o aluguel foram para a rua. Estavam naquela situação há uma semana.
Os jovens entregaram a sopa e partimos para mais uma esquina. Onde parávamos, vinha gente atrás do sagrado alimento.
Certa altura da noite, os jovens entregaram a sopa para um senhor, que já deveria ter mais de 50 anos. Cabelos e barba brancos, rosto marcado pelo sofrimento, olhos tristes, roupas maltrapilhas, dormindo num canto qualquer. Esperei ele comer e o entrevistei. Queria saber a opinião dele sobre o trabalho dos jovens. A resposta veio em tom de sofrimento e muita mágoa por viver daquela forma: "a fome dói, filha. A fome dói...."
Nunca mais esqueci essa frase...nem do rosto dele. E isso já faz 11 anos.

sábado, 4 de maio de 2013

A briga pelo entrevistado

"Olha, eu não tenho nada a ver com isso. Preciso terminar a reportagem porque tenho horário para fechar o texto." Essa foi a resposta que dei para duas assessoras que começaram a "discutir" na minha frente. Elas não brigaram, mas cada uma queria impor sua vontade. Explico.
Eu estava numa feira e precisava entrevistar um médico que trabalhava para um laboratório, mas daria palestra no evento. Quem "vendeu" a pauta foi a assessoria da feira. A assessora do laboratório estava acompanhando a entrevista e queria que o médico vestisse o jaleco profissional. Mas estávamos no estande de outra empresa e essa não autorizava o uso do tal jaleco ali. Pronto, confusão armada. A assessora do laboratório queria que eu  gravasse a entrevista numa sala fechada, só assim o médico poderia vestir o tal jaleco. Mas a assessora da feira não queria autorizar...Resumo: elas ficaram nessa "conversa" particular junto com o médico uns 10 minutos. Imagino a saia justa do entrevistado. Depois me contaram o que estava acontecendo...
Eu dei a resposta acima e deixei a história pra lá. Gravei ali mesmo no estande, afinal em tv precisamos de imagem e o tempo é precioso. O resultado ficou bem bacana. Não vou citar o evento para não expor as pessoas. Mas queria relatar a história, já que no blog escrevo sobre meus apuros nas reportagens.
É cada uma...