sexta-feira, 18 de abril de 2014

Respeitando a fé alheia

Ele estava ajoelhado, as mãos unidas com força e os olhos fechados. Da boca saíam algumas palavras, mas eu não conseguia ouvir. A imagem do rapaz na sacristia me chamou a atenção assim que entrei na igreja. Rezava com fé.
Eu estava na igreja para fazer uma matéria sobre confissão. Em princípio, a orientação da pauta era para "tentar encontrar" algo divertido, curioso, nessa linha...tentar descobrir o que as pessoas confessam.
Mas o que é discutido nas chamadas reuniões de pauta nem sempre se aplica na rua. Aí entram a responsabilidade e personalidade do repórter de colocar no papel o que realmente foi encontrado na externa, de mudar o foco se for preciso.
Foi o que fiz. Estive em duas igrejas católicas e nas duas apurei que a confissão era muito, mas muito importante para aquelas pessoas. Não era só um ato de chegar para o padre e contar algo. Era, pra elas, a limpeza da alma, o perdão de Deus, a vida em paz. Foi isso que ouvi. "Confessar me traz paz", me disse o rapaz ajoelhado.
E com a fé alheia não se brinca. Se respeita.
E eu respeitei. Ao chegar na redação, avisei a minha chefe que não dava pra levar a pauta sobre confissão para o lado curioso, contei sobre o rapaz na sacristia e disse que não me sentia nesse direito. Ela entendeu e aceitou o vt (reportagem) com o que tinha apurado.
Ah... eu não me confesso, mas me senti em paz com a reportagem que foi ao ar, respeitando a fé dos meus entrevistados.