segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Cacto, o único alimento da família

Eu lembrei desta entrevista ontem, depois de ficar passada com o preconceito que invadiu as redes sociais com o resultado da eleição. Já faz uns 16 anos que fiz esta reportagem, mas a frase foi tão impactante que nunca esqueci.
O meu personagem tinha na casa dos 30 anos, tinha vindo do sertão da Bahia para trabalhar como caseiro numa chácara em São Paulo. Estava há alguns meses aqui, gostava do trabalho, mas não estava feliz. Sentia saudade da terra, da esposa e dos filhos. Mas vir para São Paulo tinha sido a única alternativa para a família não passar fome. Com a seca que reinava por lá, a plantação ficou destruída, e eles não tinham o que comer.
"A gente estava comendo cacto." Cacto, a planta?, perguntei espantada. "Sim, cacto....", respondeu resignado.
Fiquei impressionada com aquela declaração.
Continuei a entrevista, e ele me disse que agora estava mais aliviado, menos angustiado, já que com o salário de caseiro conseguia mandar algum dinheiro pra lá e a esposa podia ao menos comprar arroz e feijão.
Depois desta entrevista, passei a entender porque muitos vêm pra cá. Porque todos brasileiros têm o direito de lutar por uma vida melhor. E São Paulo não é esse estado potência só por mérito de um governo e sim por uma questão histórica.
Pra mim é inaceitável imaginar que alguém pense que a pessoa seja obrigada a viver onde nasceu, mesmo não tendo acesso a saneamento, água, e o mais triste, muitas vezes sem ter o que comer. Isso não tem a ver com voto e sim com respeito ao próximo.
Ah, você  já comeu cacto? Talvez nunca tenha precisado....pense nisso!