domingo, 29 de abril de 2012

Nas entrelinhas 2

Enquanto escrevia o texto anterior lembrei de outra reportagem que surgiu das "entrelinhas".
Manifestantes que exigiam moradia do governo de São Paulo foram atendidos pelo governador Mário Covas. Os jornalistas puderam acompanhar.
No meio das reivindicações um líder comunitário avisa: "O Jardim Pantanal está sendo ocupado novamente. Tem gente vendendo casa lá".
A frase me chamou a atenção, já que eu tinha feito a cobertura da desocupação. Ali era área de manancial e não poderia ser ocupada.
Saí do Palácio dos Bandeirantes com aquilo na cabeça. Na redação comecei a ligar para alguns líderes que conhecia e confirmei a informação. Marquei com um deles e fui até lá.
Os moradores tinham sido retirados, mas algumas casas continuavam de pé. Resultado: foram ocupadas novamente. Nem todas foram invadidas. Algumas foram compradas!!!! Famílias que vieram de outros estados e não sabiam nada sobre o bairro compraram as casas do "dono". Encontrei várias histórias assim. Naquela altura, as famílias compradoras já sabiam que tinham caído num golpe. Afinal, o "dono" não passava de um espertalhão que vendia as casas que não eram dele...
Mais um furo de reportagem que surgiu das entrelinhas. Pena que a notícia era tão triste.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

NAS ENTRELINHAS...



Os entrevistados e fontes dizem coisas nas entrelinhas. Aprendi isso com o tempo. De uma frase jogada no ar pode sair uma matéria...
As missas do padre Marcelo Rossi começaram a fazer sucesso no final dos anos 90.  Na primeira igreja, chegou uma hora que não cabia mais ninguém e ele passou a celebrar na rua, mas o barulho incomodava os vizinhos.
Em 1998, as missas foram para um galpão, perto da marginal Pinheiros. É aqui que entra a informação das entrelhinhas...
Certa vez (trabalhava no Agora São Paulo), eu liguei para um secretário na prefeitura para pegar informação para uma outra matéria. No meio da conversa, ele joga... "o dom Fernando (bispo de padre Marcelo) acabou de sair daqui, parece que a dona do galpão não vai mais alugar o espaço pra igreja."
Hum....
O tal secretário sabia que eu costumava cobrir as famosas missa,.por isso me passou a informação como quem não quer nada...Entendi o recado!
Fui atrás da história e consegui confirmar. E mais: descobri que o padre Marcelo iria ficar um tempo sem celebrar essas missas porque ainda não havia conseguido outro lugar do mesmo porte .
A reportagem saiu na capa, e no dia seguinte, outros jornais correram atrás da história. Furo!

terça-feira, 10 de abril de 2012

É feio, mas dá pra andar....

Quando era prefeito, Celso Pitta visitava três vezes por semana os bairros de São Paulo. Na vistoria tinha sempre a companhia dos jornalistas, eu inclusive.
As visitas nem sempre rendiam matéria. Mas a gente acompanhava para garantir que o prefeito não iria falar nada demais.
Uma dessas visitas foi ao bairro Capela do Socorro, na zona sul. Lá, no meio da caminhada, eu reparei no asfalto de algumas vias: mal colocado, cheio de pedregulho, mas que aparentemente funcionava melhor que as ruas de terra em volta. Questionei os moradores e eles me confirmaram que o asfalto era novo e que eles gostavam de ter a rua pavimentada, mesmo que daquela forma inacabada. Isso porque nos dias de chuva, com barro, era impossível transitar por ali.
O administrador regional do bairro (hoje o cargo chama sub-prefeito) confirmou a pavimentação. O asfalto era reaproveitado das marginais que tinham acabado de ser recapeadas. Como o material ainda era bom, a prefeitura resolveu usar nos bairros mais afastados.
O administrador sabia que eu era jornalista, apesar da minha cara de menina lá pelos meus 25 anos. Mas insistia em falar baixinho, perto do meu ouvido o que ele pensava do asfalto colocado naquelas ruas. E deixou escapar quando eu falei:
- Mas é feio.
- É feio, mas dá pra andar, ele respondeu.
Nem preciso dizer que virou título da minha matéria.
No dia seguinte, ele me liga na redação reclamando que tomou bronca do secretário por causa da declaração. Ele confirmou ao chefe que realmente tinha dito aquilo pra mim. Mas a matéria, em si, não era negativa, já que os moradores elogiavam o asfalto. Era melhor que o barro, diziam.
No final eu o convenci disso... e ele ainda acabou me parabenizando pela reportagem e dizendo que iria pensar duas vezes antes de conversar com um jornalista. Apesar de vários repórteres estarem no local, só eu percebi aquele asfalto invocado.
E foi ele que disse que é feio, mas dá pra andar! Uma declaração assim era tudo que eu precisava...rs