domingo, 28 de novembro de 2021

Deadline do Agora SP

Esta é a última edição do Agora SP. O recado tá ali no canto direito no alto da capa. Uma história que ajudei a construir há 22 anos.

Trabalhei lá entre 1998 e 2000. Fiz parte da equipe que participou da criação do jornal (antes, Folha da Tarde). Alguns domingos fora do plantão para fazer os pilotos do Agora SP. O nome era guardado a sete chaves. A gente só sabia que viria um novo jornal por aí.

Durante dois anos trabalhei doze horas por dia, inclusive fim de semana. Sexta-feira era dia de pescoção, ficar até de madrugada pra fechar o jornal de domingo. Era exaustivo. Mas tava começando a carreira, então, vamos lá!

Fiz muitas e muitas reportagens. Cobri as grandes missas do Padre Marcelo. Fui eu que revelei que o padre precisaria entregar o galpão onde celebrava as missas e ficaria um tempo sem lugar para receber tantos fieis.  Também cobri chacinas. A primeira com 12 mortes. Nem sabia por onde começar, mas encarei. 

Cobri o tiroteio no shopping, o rapaz que atirou nas pessoas que estavam no cinema. Trabalhei também no caso do maníaco do parque. Estava lá na coletiva  (sim acreditem, coletiva!) quando ele foi preso.

Acordei de madrugada para muitas manifestações, greve de ônibus, greve de metrô, enchentes, reportagens sobre comércio ambulante, acidentes de trânsito, entrevistei minha dupla querida - Zezé e Luciano- muitas e muitas vezes. Outro dia o Zezé me disse que lembrava de mim novinha com bloco na mão anotando o que ele falava...foi pelo Agora que cobri o primeiro dvd ao vivo da dupla. 

E tudo isso numa época que celular não era acessível. Eu não tinha. Usava o orelhão para falar com a redação.

Era um jornal acessível, preço baixo. O cobrador do ônibus que eu pegava pra chegar na Folha, na rua Barão de Limeira, lia o jornal todo dia. Mas nunca falei que trabalhava lá. De vez em quando espiava pra ver se ele tava lendo a minha reportagem. Sim, estava. Ficava toda orgulhosa.

Pena que esta história termina hoje, 28 de novembro de 2021. Deadline do Agora SP.


*Deadline é uma expressão usada no jornalismo para definir o prazo final que temos para entregar uma reportagem.

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

A cabra comeu o microfone


A cena foi muito rápida. Não deu tempo de perceber, nem de salvar o fio do microfone.

Estávamos gravando num sítio em Cabaceiras, interior da Paraíba. Produção de leite de cabra. Os animais são curiosos, ficam olhando pra gente. Certeza que gostariam de perguntar o que a gente estava fazendo ali. Bati várias fotos e em todas tem alguma cabra olhando pra câmera. E toda hora elas tentavam pegar minha caneta da mão. 

Na hora da entrevista, o cinegrafista pediu que o produtor ficasse no meio das cabras, dentro da baia. O produtor estava com microfone de lapela, aquele pequeno que colocamos na roupa do entrevistado.

Sonora seguia normalmente, até que cinegrafista interrompeu: estamos com alguma interferência no áudio. Foi aí que olhei pra cabra e disse: tá ali a interferência! O fio do microfone estava na boca dela...

A danada se aproximou sem ninguém perceber e abocanhou um pedaço do fio que ficou pra fora da cintura do entrevistado. Opa, pensou ela, que é isso aqui? Eu quero! 

O produtor tentou tirar, mas o estrago já estava feito. Fio destruído.

O engraçado foi ver a cabra com o fio na boca olhando pra gente...

Engraçado e desesperador, claro, pelo equipamento perdido.