quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

2013, o ano que perdi meu emprego

O primeiro semestre de 2013 foi intenso. Fui ate Santa Maria, no Rio Grande do Sul, cobrir o incêndio na boate.  Trabalhei muitas horas, fiquei triste com as histórias que ouvi, me emocionei....
Depois vieram os julgamentos. Foram vários, um seguido do outro, carandiru, mercia, Gil...Fui escalada para a cobertura e para as entradas ao vivo no jornal. Tem que estar atenta a tudo. Entrevistado aparece, todo mundo vai.... Estava com uma equipe ótima, demos conta do recado.
Em junho, estouraram as manifestações. Jovens foram para as ruas protestar contra a tarifa do transporte. Em duas delas, estava embaixo acompanhando de perto. Houve conflito, policiais jogaram bombas, deram tiros de balas de borracha. Jovens revidaram. Eu e o câmera lá no meio. E ainda entrei ao vivo, no meio do conflito, exclusiva com o comandante da operação. Ele estava lá do lado...não tive dúvida, segurei no braço e entrevistei.
O cop precisava subir e lá fui eu. Vários dias entrando ao vivo, de cima, nos plantões e no jornal. Cheguei a ficar uma hora ao vivo, relatando tudo que via lá do alto. Ótima parceria com a apresentadora.
Em julho, a triste surpresa. Sem muitas explicações, apenas por critérios sei lá quais, perdi o emprego. Agradeci, me despedi de todos, e segui meu caminho.
Estava exausta. Nesse período, descansei, refleti, pensei em desistir, fiquei na dúvida, e descobri outro mercado do jornalismo. Não fiquei parada, nem posso. Mas a paixão que tinha pela reportagem tava escondida...em algum lugar. Numa entrevista recente, essa paixão reacendeu. A resposta de um menino me tocou....
E desde então venho pensando nisso, na volta....
Em 2014, já decidi. Eu vou voltar.
Desejo a todos um feliz natal e um ótimo 2014. Obrigada por acompanhar as histórias do blog. Ano que vem tem mais!!! No blog e na tv....

Obs-a sonora do menino está no post "não sabia conta de dividir"

domingo, 8 de dezembro de 2013

Eu sei como dói não ter o que comer

Ela me recebeu sorrindo. Cheguei no supermercado por volta das 16h da tarde, era a quarta loja que visitava no fim de semana. Estava gravando para uma rede de supermercados que promoveu o dia da solidariedade. Os clientes eram incentivados a doar um quilo de alimento.
Assim que chegou, a equipe deu de cara com a simpática Joyce. Jovem na casa dos 20 anos, alegre, era atenciosa com os clientes, estava empenhada em fazer a campanha dar certo. Toda hora estava no caixa tentando convencer algum cliente a participar. Fez até maquiagem.... estava toda serelepe.
Diante deste cenário, decidi gravar com a Joyce. Mas no meio da entrevista, os olhos dela se encheram de lágrimas, ela não aguentou a emoção e desabou...
Eu havia acabado de perguntar porque ela estava tão motivada em participar da campanha. E lá veio a resposta que eu jamais imaginei... Joyce já tinha passado fome. Ela mora com os pais e os irmãos e durante muito tempo, a família viveu com dificuldades.
"Eu já passei fome. É muito difícil...Meus pais deitavam no corredor pra não verem que os filhos estavam comendo fubá com água. Era a única refeição do dia... eles sofriam muito."
Eu não interferi na entrevista. Mantive o microfone ali na frente, e deixei a jovem falar...
"Eu sei como dói não ter o que comer."
Minutos depois, passada a emoção, o sorriso voltou. E a jovem terminou a entrevista como parece levar a vida: com otimisto, sem medo, e cuidando do próximo. "Por isso que a gente tem que ajudar. Um quilo de alimento pode ser pouco, mas é muito para quem recebe."
É isso aí querida...

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Não sabia conta de dividir....

Hoje, depois de muito tempo, voltei a sentir o prazer da reportagem.... O prazer de ouvir histórias voltou... estava guardado em algum lugar dentro de mim. Achei!!!
Hoje eu ouvi a história do Lucas, um menino de 9 anos, morador da comunidade Heliópolis, na zona sul de São Paulo. Ele é um dos alunos do projeto brilhante do Sesi-sp "Na Trilha dos Saberes". É um programa que trabalha o complemento escolar. Os alunos, entre 6 e 14 anos, passam as tardes ou manhãs na sala de aula aprendendo, mas de forma lúdica. Aprendem português, matemática e outras disciplinas através de jogos. Stop, dominó, banco imobiliário e por aí  vai. Muito bacana.
Eu perguntei para o Lucas o que tinha mudado na vida dele... e ele respondeu."Na escola tinha dificuldade, tirava tres por aí, quando eu comecei a vir pra cá, a Van começou a me ajudar, comecei a melhorar"
A Van é o apelido carinhoso da professora. Entrevistando os alunos, todos se referiam a ela dessa forma carinhosa. "Eu gosto muito porque a Van  nos ajuda a fazer várias atividades que a gente não consegue aprender tanto na escola", disse a Emanuelly, de 10 anos.
Nas palavras dá pra perceber a gratidão desse alunos e como a atenção especial dada pela Van mudou a vida deles.
O programa resgata a autoestima, mostra pra essas crianças que elas podem aprender e mudar o futuro. Eu perguntei a Van sobre o resultado desse trabalho, iniciado em 2008. Ela diz que os alunos costumam comentar... "não sabia que sabia, que era fácil desse jeito."
Uma outra resposta do Lucas não saiu da minha cabeça.
"Eu tinha muita dificuldade. A Van chegou e me ajudou muito. Não sabia conta de dividir, a Van ajudou"
É...ouvir o que o outro tem a dizer pode mudar nossa maneira de ver o mundo.