domingo, 18 de junho de 2023

Etarismo? Não nas TVs inglesas

Em férias na Inglaterra assisti muitos telejornais. Me chamou a atenção a quantidade de profissionais mais velhos, muitas mulheres, na frente das câmeras. Os cabelos brancos estavam ali, sem precisar esconder. As roupas nada chamativas, sem decotes. Roupas. Claro, há profissionais mais jovens, que bom, ótimo a mistura de gerações. Mas a experiência é valorizada na tv inglesa. O profissional mais velho não precisa sair do video porque a pele enrugou ou o cabelo mudou de cor. Vale a trajetória construída, a experiência conquistada com erros e acertos, a serenidade da maturidade. Ganha o jornalismo, a informação. 

Enquanto assistia pensava como poderia ser assim na tv brasileira. Não é. Torço para que um dia muito breve  esse padrão -  sei lá quem inventou - mude. 



sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

27 de janeiro

Domingo, meio-dia, meu celular toca. Estava de folga. Chefia de reportagem me ligando avisando que eu iria para Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Incêndio em uma boate com muitas vítimas. Às 14h carro passaria pra me pegar e levar para o aeroporto. Corri para arrumar mala, pegar roupas, caneta, bloco, documentos. 

Eu e cinegrafista embarcamos de Congonhas e seguimos para Porto Alegre. Lá, alugamos o carro e fomos até um hospital onde estavam algumas vítimas. Gravei um boletim, enviamos pra SP e pegamos a estrada até Santa Maria. Chegamos de madrugada. Ao amanhecer fomos até o velório coletivo. Nunca esqueci essa imagem. As vítimas todas muito jovens. A dor imensa dos pais, dos familiares. 

Segui para o "ao vivo" em frente à boate. Lembro de ter falado do silêncio. Naquela segunda-feira não se ouvia barulho de carro, de buzina, de pessoas. Nada. Silêncio enorme de uma cidade que não acreditava naquela tragédia. 

Nós enviávamos a gravação das matérias de uma lan house, que tinha uma internet melhor que a do hotel. Quem tomava conta era um jovem de 20 e poucos anos. Muitos amigos dele estavam na boate e morreram ali. Teve uma cena em que ele me aponta para uma porta, de uma também jovem, advogada. O escritório dela era ao lado. Ela estava na boate. 

E foi assim por vários dias, encontrando pessoas que conheciam ou eram amigas dos jovens que estavam la e morreram no incêndio. Era a dor, imensa, de uma cidade inteira. 

Na sexta, no vôo de volta pra SP havia muitas equipes de tv. Geralmente interagimos. Desta vez, não. Foi um vôo silencioso. 

242 vítimas, eu nunca esqueci esse número. 

sábado, 14 de janeiro de 2023

Eu construí a minha história: 28 anos de jornalismo

Todo mês de janeiro lembro do meu tempo de carreira. Foi em janeiro que comecei na profissão, num breve estágio que fiz num instituto de pesquisa. Foram apenas seis meses até eu migrar para o Diário do Grande ABC. Nunca mais fiz estágio. No Diário já tive na carteira o registro de repórter.

E agradeço ao universo por tudo que já fiz na profissão. Adoro contar as histórias que vivi ao longo desses anos e foram muitas. Algumas estão contadas aqui no blog (e continuo contando...).  

E agradeço mais ainda por continuar na reportagem, uma louca paixão. Me realizo na externa, na descoberta de histórias, na conversa com as pessoas. No agro é muito comum terminar a reportagem e as pessoas nos convidarem para um delicioso café. Eu costumo brincar que o agro engorda... é cada coisa boa que a gente experimenta. Doce de leite, bolos, pães, leite, sucos, carnes que nunca tinha ouvido falar na vida!!! Eu fiz uma série sobre queijos em Cunha, no interior de São Paulo. Quando terminei as entrevistas, a dona da casa me convidou para experimentar os queijos que a família fazia. Sentei e experimentei todos...um melhor que o outro. 

A carreira teve pontos ruins. Sempre terá. Tem falta de respeito, panelas eternas, assédio, muitas vezes velado. Depois de tanto tempo já nem dou trela pra isso, mas não significa que não estou atenta. Hoje percebo muito fácil e nas entrelinhas o que acontece ao meu redor. E quando acho que ultrapassa limites reajo. Porque já passei por muitas redações e tenho certeza que nunca é sem querer. 

Mas o meu foco nunca foi esse. Não vou desistir da profissão que escolhi por causa dos chatos que aparecem no caminho. Jogo para o universo e ele cuida disso pra mim. Meu foco é fazer o que considero uma boa apuração, um bom texto, uma boa reportagem. E assim sigo pra mais um ano, sorrindo e agradecendo!