sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

27 de janeiro

Domingo, meio-dia, meu celular toca. Estava de folga. Chefia de reportagem me ligando avisando que eu iria para Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Incêndio em uma boate com muitas vítimas. Às 14h carro passaria pra me pegar e levar para o aeroporto. Corri para arrumar mala, pegar roupas, caneta, bloco, documentos. 

Eu e cinegrafista embarcamos de Congonhas e seguimos para Porto Alegre. Lá, alugamos o carro e fomos até um hospital onde estavam algumas vítimas. Gravei um boletim, enviamos pra SP e pegamos a estrada até Santa Maria. Chegamos de madrugada. Ao amanhecer fomos até o velório coletivo. Nunca esqueci essa imagem. As vítimas todas muito jovens. A dor imensa dos pais, dos familiares. 

Segui para o "ao vivo" em frente à boate. Lembro de ter falado do silêncio. Naquela segunda-feira não se ouvia barulho de carro, de buzina, de pessoas. Nada. Silêncio enorme de uma cidade que não acreditava naquela tragédia. 

Nós enviávamos a gravação das matérias de uma lan house, que tinha uma internet melhor que a do hotel. Quem tomava conta era um jovem de 20 e poucos anos. Muitos amigos dele estavam na boate e morreram ali. Teve uma cena em que ele me aponta para uma porta, de uma também jovem, advogada. O escritório dela era ao lado. Ela estava na boate. 

E foi assim por vários dias, encontrando pessoas que conheciam ou eram amigas dos jovens que estavam la e morreram no incêndio. Era a dor, imensa, de uma cidade inteira. 

Na sexta, no vôo de volta pra SP havia muitas equipes de tv. Geralmente interagimos. Desta vez, não. Foi um vôo silencioso. 

242 vítimas, eu nunca esqueci esse número. 

Nenhum comentário: