Minhas mãos são assim, de trabalhadora! Foi com esta frase e mãos estendidas cheias de terra que a produtora rural Sandra me recebeu na propriedade dela em Mogi das Cruzes, na região metropolitana de São Paulo. Respondi que não tinha problema algum, afinal eu sabia que ela já estava trabalhando na terra desde cedo.
Eu fui até lá gravar uma reportagem para o dia das mulheres, celebrado em oito de março. Cheguei até ela por indicação de um outro produtor da região, que já entrevistei algumas vezes. Ela também me perguntou sobre a roupa, se precisava mudar. Perguntei, é assim que a senhora trabalha todos os dias? Ela disse que sim, e eu respondi, então é assim que vamos seguir, se não se importar, claro. Esse diálogo só fui entender o sentido depois, na gravação da entrevista quando ela me disse que já sentiu vergonha pelos olhares alheios quando ia vestida com as roupas que usa para trabalhar no campo fazer compras no comércio. Ela se emocionou na sonora e disse que hoje não se importa mais com esses olhares porque sabe o valor que a agricultura tem para a sociedade. "Eu me orgulho de poder levar o alimento na mesa das pessoas, isso não me incomoda mais"
obs - Era a minha terceira entrevistada do dia. Pouco antes já havia gravado com duas mulheres, mãe e filha, que ganham a vida produzindo alimentos. A jovem decidiu seguir os passos da mãe, que assumiu a lavoura depois da separação. Mesmo tão jovem já sabe o valor do campo.