quinta-feira, 21 de março de 2013

O vento poderia me trazer a cura da Aids

Certa vez fui gravar uma exposição de fotos no conjunto Nacional, na avenida Paulista. O diferencial eram as fotógrafas: mulheres portadoras do vírus HIV. A maioria tinha sido contaminada pelos maridos. Foi numa época em que o Ministério da Saúde chegou a chamar a atenção do aumento de mulheres contaminadas durante o casamento. Havia a traição, eles não usavam camisinha e acabavam contaminando as esposas.
Essas mulheres faziam parte de um grupo que se reunia com frequência numa entidade que dava apoio as pessoas portadores dos vírus, um trabalho bem bacana. 
Essas mulheres tinham a dor de descobrir a traição e a doença. As fotos eram simples, mas muito bonitas. Tinham muito significado. A proposta era fotografar algo que representasse a visão dessas mulheres sobre a Aids. 
As expositoras estavam lá. Elas me contavam o porque da idéia das fotos. O que era pra ser uma reportagem normal, ganhou outra proporção com o relato das artistas. Tem uma frase que ouvi que não esqueço até hoje. Foi com essa declaração que encerrei minha reportagem. Era uma foto de um quintal com um varal. No varal havia muitas roupas que balançavam por causa do vento. A expositora tinha acabado de estender as peças e sentou ali no quintal para descansar um pouco. Foi ali que ela teve a idéia de pegar a câmera e bater a foto. 
Perguntei o que aquela foto significava. A resposta emocionante que ouvi. "Eu tava ali sentada, vendo aquela roupa balançando no varal. Quando senti o vento, pensei:  o vento poderia me trazer a cura da Aids". 

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