sábado, 11 de maio de 2013

A fome dói...

Eu trabalhava em Mogi das Cruzes, quando fui pautada para fazer uma matéria sobre as pessoas que doavam alimentos para os moradores de rua. Gravei com uns jovens, que se reuniam toda sexta-feira para fazer sopa. Cozinhavam e iam para as ruas distribuir.
Gravei o preparo da sopa e depois segui com eles para mostrar a distribuição da janta. Nessa reportagem descobri que para muitos aquela era a única refeição do dia. Não tinham colocado nada na boca até então... e já passava das dez da noite.
Encontrei uma família com pai, mãe e duas crianças, todos deitados no chão gelado. Estavam procurando abrigo na garagem de um comércio, tentando se proteger do frio. Já era inverno. Estavam enrolados num cobertor e sobre um papelão. Nada além disso. As crianças dormiam, dormiram com fome naquela noite, já que não havia o que comer, me disse a mãe. O pai me contou que tinha perdido o emprego e como não conseguiu pagar o aluguel foram para a rua. Estavam naquela situação há uma semana.
Os jovens entregaram a sopa e partimos para mais uma esquina. Onde parávamos, vinha gente atrás do sagrado alimento.
Certa altura da noite, os jovens entregaram a sopa para um senhor, que já deveria ter mais de 50 anos. Cabelos e barba brancos, rosto marcado pelo sofrimento, olhos tristes, roupas maltrapilhas, dormindo num canto qualquer. Esperei ele comer e o entrevistei. Queria saber a opinião dele sobre o trabalho dos jovens. A resposta veio em tom de sofrimento e muita mágoa por viver daquela forma: "a fome dói, filha. A fome dói...."
Nunca mais esqueci essa frase...nem do rosto dele. E isso já faz 11 anos.

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