quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Eu não sei ler, moça

Sábado de manhã. Lá fui eu para mais uma reportagem. O foco da matéria era mostrar a angústia de dezenas de famílias que moram em uma comunidade na zona leste de São Paulo. Por causa de uma obra, elas terão de deixar o local. Só que curiosamente muitos pedreiros da construção moram na comunidade. Ou seja, quanto mais rápido trabalham, menor o tempo para terem onde morar.
Naquele dia haveria uma reunião entre eles para decidir que rumo tomar, afinal ninguém tinha pra onde ir. E o tempo estava passando...
Minha missão era encontrar o Jailton. O cinegrafista já conhecia o local, o que facilitou a busca. Perguntei para um, perguntei pra outro, até que conseguimos encontrar a esposa do Jailton. Simpática, me recebeu muito bem. Me disse que ele estava trabalhando na obra e só voltaria no fim do dia. Perguntei sobre celular, mas como a linha era nova, ela ainda não sabia o número...hum...
Até que os anjos entraram em ação...
Quando me despedia, o telefone dela toca... era o Jailton!!!!! Falei com ele, que topou gravar comigo. Fomos até a obra, que fica pertinho dali, minutos de carro. Depois de dar algumas voltas pela obra cheia de pedreiros, finalmente encontramos nosso personagem!!! Jailton deve ter uns 30 anos, fala muito bem e explicou a angústia das famílias. Valeu a pena a procura!!
Na comunidade, gravei a passagem (quando repórter aparece). Enquanto me preparava, alguns meninos, entre 8 e 9 anos de idade, estavam ali ao lado. Eu estava com o caderno de anotações na mão e brinquei: já que vocês estão me observando, quem segura isso pra mim?
O menino que pegou o caderno respondeu:
Eu não sei ler, moça.
Fiquei em silêncio por alguns segundos, pensando naquilo, e perguntei: que série você está?
Na quarta.
E não sabe ler?
Não muito...

Um comentário:

Dote Vídeo Produções disse...

Essa é a triste realidade dessas crianças que são submetidas a mudarem de série sem saber ler e nem escrever.A ordem é: "Passar de ano a qualquer custo",afinal, o governo tem que mostrar sua estatística fictícia ao mundo, e o corpo docente,a jogar seu diploma na latrina,pactuando com essa barbaridade.
" Nesse país impera o descaso"