segunda-feira, 20 de junho de 2011

Minha matéria tá pendurada na cantina italiana

Hoje lembrei de uma matéria dos tempos do Agora São Paulo. Era 1999. Havia acabado de estrear a novela Terra Nostra, na Globo, que contava a saga dos imigrantes italianos que vieram para o Brasil. Certa manhã, a secretaria de redação me chama e determina: queremos um italiano com uma história parecida com os personagens da novela. Lá fui eu para o Bixiga, bairro conhecido pelas cantinas italianas. Comecei a bater de porta em porta. Era o único jeito de achar alguém...
Numa das cantinas, veio a dica. Tenta lá na cantina Capuano, acho que eles podem ajudar. Conheci dona Angela, 76 anos. No navio, o pai morreu e o corpo foi jogado ao mar, assim como aconteceu com a protagonista da novela. Já tinha minha história. Mas o melhor estava por vir. Ela me contou que o marido, seu Angelo, 79 anos, iria participar da novela como músico. E eis o porquê... ele costumava tocar clarinete e o sogro de Benedito Ruy Barbosa, o autor da novela, era vizinho do casal. Na entrevista, Benedito me disse que ficava emocionado quando ouvia seu Angelo tocar.
O difícil foi convencer o italiano a ir até a cantina tirar uma foto. Fanático por futebol, ele não perdia um jogo italiano. E justo naquele dia, iria jogar o time do coração, o Roma. Liguei, insisti, implorei, pedi... e nada! Até o secretário de redação ligou... "Não quero perder meu jogo", dizia seu Angelo. Até que em mais uma tentativa, ele cedeu aos meus apelos. E avisou: oito horas em ponto lá, se vocês atrasarem vou embora! Eu e o fotógrafo chegamos uma hora antes...
Ainda não havia acabado minha saga. A missão agora era confirmar com o Benedito toda a história. E ele já tinha avisado, só me atenderia no final da novela, depois das nove e pouco da noite. Mal acabou e fui para o telefone. Quando desliguei, comecei a pular e gritar na redação... A chefia logo entendeu e começou a comemorar também. EEEEEbaaaa, ganhei uma página inteira no jornal e chamada de capa. Furo!!!!
Pela entrevista, a matéria cresceu ainda mais, já que seu Angelo também fazia parte da vida do autor, não era um personagem qualquer. E o personagem criado por ele era uma homenagem ao italiano.
No dia seguinte, telefone toca. "Renata, é seu Angelo... porque você não me disse que a matéria seria tão grande? saí até na capa... se você tivesse me dito, eu teria ido até a cantina mais cedo e feito mais fotos..." hahahaha. "Eu tentei seu Angelo, mas o senhor me dizia que não queria perder o jogo..." Enfim, o italiano me disse que adorou a matéria. Que bom!


Meses depois, Almeida Rocha, um fotógrafo amigo,  me avisa... "Fui jantar na cantina Capuano e sua matéria está pendurada na parede." E tantos anos depois, continua lá. Sempre que vou jantar no restaurante, faço questão de sentar na mesa ao lado da minha reportagem, protegida por um vidro. E aviso aos garçons: eu sou a Renata Afonso, eu que escrevi!!!!!

5 comentários:

Valdemar__ disse...

Poxa vida, não sei porque, mas até me deu vontade de chorar, EMOÇÃO, BJS

Maria Clara Moraes disse...

Vc não imagina como eu sou fã do seu trabalho, da sua determinação... Cada vez que eu leio aqui as histórias por trás das matérias, admiro mais ainda... Parabéns Re, sou muito fã! Beijão

renata afonso disse...

Valdemar, obrigada pelo carinho! Clarinha, que delícia ler suas palavras!!! to na torcida por vc, sempre! beijos

Ma-genta disse...

... "eu sou a Renata Afonso, eu que escrevi!!!!! "" ...ai que metida!!! ...rsrsrs
bjs

Adriana Farias disse...

Que bacana essa história, Renata! São nesses detalhes que ganhamos... espero ver reportagens minhas encaminhadas assim, com determinação, procura e com muitas histórias de vida!

Um beijo