domingo, 22 de junho de 2014

O meu amigo está bem?

Foi com esta pergunta que o jovem de 15 anos me recebeu em casa. A resposta... "Sim, ele está no hospital". Era mentira...
O amigo havia morrido, mas a pedido da mãe eu tive que mentir. Explico.
A minha reportagem era sobre um acidente em uma movimentada avenida da zona sul de São Paulo. Dois jovens, entre 14 e 15 anos, voltavam da escola e faziam a tradicional e saudável bagunça dentro do coletivo. A avenida era estreita e os ônibus passavam próximos da calçada, guias e postes....
Os dois, na brincadeira, colocaram a cabeça para fora pela janela. Ao virarem pra trás para mexerem com quem havia descido não viram o poste. O motorista, infelizmente, também não percebeu o que estava acontecendo. Violentamente eles bateram as cabeças no poste. Foram socorridos, mas um não sobreviveu.
Ao chegar na casa do rapaz, a mãe topou que eu entrasse, mas pediu que eu não contasse a verdade. O  menino estava abalado, com dores, e não sabia da morte do amigo. O melhor amigo.
Eu fiz a entrevista com todo cuidado, falava pausadamente para não errar o tempo verbal. Perguntava no presente. Vocês são amigos? Estudam juntos? Se conheciam desde criança, jogavam bola, estudavam e iam pra balada juntos. Era visível a preocupação dele com o amigo.
Não foi fácil...
Mas a mãe não conseguiria esconder a verdade por muito mais tempo. Em algumas horas, a notícia estaria na tv e no dia seguinte, nos jornais. Naquela época a internet não era de fácil acesso.
Mas eu, como jornalista, não tinha o direito de contar. Se a mãe pediu segredo, é porque ela sabia o tamanho da dor que a notícia iria causar no filho.

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